Notícia da ComCiência: Pesquisador aponta falta de diálogo entre sociedade, escolas e empresas

Como aproximar, sem traumas, escola e mercado para a formação de um cidadão com poder de decisão sobre seu futuro? O livro do pesquisador José Armando Valente, A aprendizagem na era das tecnologias digitais, lançado no segundo trimestre deste ano, trata sobre este tema, um tanto ou quanto nebuloso para os educadores e empresários nacionais. Valente, professor da área de Multimeios do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador colaborador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied), aponta a necessidade de novos modelos de diálogo entre os distantes sistema educacional e as empresas. Essa distância é tamanha que as empresas muitas vezes têm que apelar para a “re-formação” de estudantes recém-formados. “A Petrobras, por exemplo, gasta um ano para re-formar um profissional recém-formado”, diz.

Para o pesquisador, a escola, nos moldes atuais, é responsável pela formação geral do estudante contribuindo para um distanciamento do mesmo em relação ao mercado de trabalho, problema também observado nas universidades. “Os professores universitários são refratários em aceitar aproximações com as empresas e nos EUA esse diálogo é ativo e se dá via os ‘escritórios de Liaison’, que fazem a ponte entre demandas das empresas com os serviços que a universidade pode oferecer”, explica o pesquisador.

Ele também aponta para a tendência da aprendizagem continuada como uma realidade que deve ser enfrentada, “a empresa tem quadros enxutos e não pode mais dispor de um ano, por exemplo, para que seus funcionários voltem a estudar. É preciso que os próprios funcionários tenham consciência da necessidade e vontade para procurar alternativas fora da escola e fora da empresa”. No caso de conhecimentos específicos, como inglês técnico para operação de um maquinário, por exemplo, a empresa pode entrar como facilitadora do processo de aprendizagem, direcionando o método de acordo com suas necessidades. O processo contínuo de aprendizagem é outro exemplo que evidencia a distância e defasagem dos currículos escolares, pois a escola não está preparada para ensinar como usar a tecnologia para dar continuidade ao aprendizado, que deveria ser uma espécie de moto-perpétuo.

Para aproximar as duas partes desse diálogo em suspensão, Valente cita dois exemplos: o School Academies, projeto do Reino Unido onde empresas financiam escolas públicas e direcionam os currículos dos alunos e os exemplos das empresas júnior, iniciativa que vem ganhando espaço nas universidades brasileiras. De acordo com ele, é importante que se crie um modelo fixo de diálogo entre sociedade, escolas e empresas, com um conselho formado por representantes dos três setores na troca de necessidade e soluções conjuntas. “Precisamos ter ‘escolas aprendentes’”, sugere.

Fonte:Revista Eletrônica de Jornalismo Científico por Enio Rodrigo.