Educação Especial

História dos Projetos de Educação Especial no NIED

Por: José Armando Valente
Ano: 2006

O trabalho relacionado ao uso da informática na educação especial teve início em 1983, quando retornei ao Brasil e fui trabalhar no Núcleo de Informática Biomédica (NIB), coordenado pelo Prof. Renato Sabbatini. No final de 1983, durante todo o ano de 1984, minha esposa, Ann Berger Valente, e eu nos dedicamos integralmente à disseminação dos resultados do trabalho realizado no MIT e à elaboração de projetos sobre o uso da informática na educação especial. Entre os anos de 1984 e 1989, foram desenvolvidos dois projetos relativos ao uso da informática na educação especial: “Aplicações da Informática na Educação Especial” realizado no período de 1984-1985, com financiamento da Secretaria Especial de Informática (SEI), EMBRATEL e Itautec, e no período 1985-1987, financiado pela Itautec; Projeto “Uso da Informática na Educação Especial”, financiado pela Secretaria de Educação Especial (SEESP) do Mec e realizado no período 1988-1989.

Esses projetos tiveram como objetivo o uso da informática com alunos portadores de outros tipos de necessidades especiais além daquelas demandadas pela paralisia cerebral, como por exemplo: surdos, portadores de problemas motores graves provenientes de outras patologias, além dos portadores de Síndrome de Down e visão subnormal. Tais projetos expandiram o trabalho que havia sido realizado no MIT, serviram para a formação de profissionais dessas áreas, bem como para entender de que forma o computador poderia ser usado por pessoas portadoras de necessidades especiais de diversos tipos. Para a realização desses projetos, foram escolhidas duas instituições: a Sociedade Campineira de Reabilitação da Criança Paralítica (ou simplesmente Casa da Criança Paralítica[1]) onde era realizado o trabalho com crianças com deficiência física, e o Centro de Reabilitação Gabriel Porto[2], onde era feito o trabalho com crianças com deficiência auditiva e uma criança com Síndrome de Down. Seis profissionais, três de cada uma destas instituições, foram selecionados para trabalhar no projeto e seis computadores I-7000 da Itautec foram instalados, três em cada uma das respectivas instituições participantes. O foco do projeto era a formação desses profissionais, que aprendiam a programação Logo e usavam o Logo com as crianças.

O trabalho realizado com essas instituições foi também usado para atividades de formação. Profissionais de outros locais estagiaram nesses laboratórios, trabalhando com os alunos e com os professores das escolas – e, com isso, puderam praticar o que liam e estudar os artigos produzidos pelos pesquisadores do projeto. Desenvolveu-se, assim, o projeto “Disseminação dos conhecimentos sobre como usar o computador na educação de crianças excepcionais”, financiado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que aconteceu no período 1986-1987.

O projeto com a OEA contribuiu para colocar o Nied no mapa das instituições internacionais, permitindo um salto importante na diversidade e na qualidade dos trabalhos realizados. Primeiro, ele possibilitou a realização de diversas oficinas de trabalho, voltadas para profissionais do Brasil e de países da América Latina, como Colômbia, Chile, e Panamá. Durante essas oficinas, além de palestras e discussões ministradas pelos pesquisadores do projeto, os participantes visitaram as instituições e os profissionais de outros países puderam estagiar nessas instituições pelo prazo de um mês. Segundo, ele financiou a visita de diversos pesquisadores, como Horacio Reggini, da Argentina, que realizou uma oficina sobre o Logo tridimensional; Steven Ocko, do MIT, que ministrou uma oficina sobre LEGO-Logo; e dos pesquisadores do Laboratório Logo do MIT, Edith Ackermann, Gregory Gargarian e David Cavallo, sendo que Edith Ackermann e Gregory Gargarian retornaram ao Brasil em outras ocasiões.

Os projetos desenvolvidos com a Casa da Criança Paralítica e com o Centro Gabriel Porto foram descontinuados em 1991. Nesse ano foi publicado o livro “Liberando a Mente” (Valente, 1991) que descreve os principais resultados desse projeto. Com isso, a ênfase das atividades passou a ser a formação de educadores interessados em trabalhar com informática e educação especial. Nesse sentido, um trabalho importante foi realizado com a AACD em São Paulo, com a implantação da informática no Setor Escolar. Essa instituição tornou-se referência nacional, realizando cursos de formação para profissionais de diferentes regiões do Brasil. O trabalho com a AACD está registrado do livro “Aprendendo para a Vida” (Freire; Valente, 2001).

O Projeto de Informática na Educação Especial (PROINESP) foi uma outra atividade importante na área de formação de professores no uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na educação especial. Essa formação foi totalmente a distância, via Internet, usando a abordagem do “estar junto virtual” e o ambiente TelEduc (Rocha, 2002). O Curso de Formação Proinesp foi realizado duas vezes, sendo o Curso Proinesp I em 2000 e o Curso Proinesp II em 2001, sendo esse último desenvolvido em parceria com o Núcleo de Informática na Educação Especial (NIEE) da UFRGS. Ambos consistiram de 210 horas de atividades, sendo 90 horas presenciais e 120 horas a distância, divididas em seis disciplinas. Nos dois cursos realizados foram formados 476 professores. A interação via Internet permitiu a realização de atividades de formação, em serviço, bem como o auxílio aos professores na implantação das TIC em suas respectivas atividades pedagógicas. Em diversas instituições, os professores formados iniciaram atividades de formação dos seus colegas.

 


[1]  Nomenclatura utilizada na época.

[2] Atualmente denominado Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Prof. Dr. Gabriel de Oliveira Porto ou simplesmente Centro Gabriel Porto.

 

Referências

FREIRE F. M. P.; VALENTE J. A. (Orgs.). Aprendendo para a vida: os computadores na sala de aula. São Paulo: Cortez Editora, 239 páginas, 2001.
ROCHA, H.V. O ambiente TelEduc para educação a distância baseada na Web: Princípios, funcionalidades e perspectivas de desenvolvimento. In: MORAES, M.C. (Org.) Educação a distância: Fundamentos e práticas (pp. 197-212). Campinas: Nied, Unicamp, 2002.
VALENTE, J.A. Liberando a mente: Computadores na educação especial.  Campinas, São Paulo: Gráfica da Universidade Estadual de Campinas, 1991.
Coordenador José Armando Valente
E-mail jvalente@unicamp.br
Data de Início 01/10/1983
Data de Fim 01/12/1991