A Gênese do NIED

Autor: José Armando Valente
Ano: 2006

Durante o início dos anos 70 acontecia na Unicamp uma série de atividades que podem ser consideradas como as sementes que originaram o NIED. Em 1975 teve início o Curso de Mestrado em Ensino de Ciência e Matemática, coordenado pelo Prof. Ubiratan D’Ambrósio, realizado no Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação e financiado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e Ministério da Educação (MEC) (D’Ambrósio, 1984). Nesse curso foi ministrada a disciplina “Introdução à Programação BASIC” que pode ser considerada a primeira disciplina sobre informática para educadores. Para essa disciplina desenvolvi com um aluno de iniciação científica, Marcelo Martelini, em 1974, um software tipo CAI (Computer Aid Instruction), implementado na linguagem BASIC, para o ensino de fundamentos de programação BASIC. Esse software foi utilizado por todos os alunos do Curso de Mestrado, via teletipo, ligado ao computador PDP 10 da Unicamp.

O Curso de Mestrado também patrocinou a visita de Seymour Papert e Marvin Minsky, pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que estavam trabalhando no desenvolvimento da linguagem Logo. Eles vieram ao Brasil pela primeira vez em julho de 1975 e durante essa visita de um mês realizaram diversas oficinas sobre as ideias do Logo, porém usando somente giz e quadro negro já que não existia naquela época um programa para interpretar e executar os comandos do Logo. Um grupo de pesquisadores da Unicamp visitou o Logo Laboratory do MIT em fevereiro-março de 1976 (Moraes, 1997). Quando esse grupo retornou ao Brasil o Logo foi implantado no computador PDP 10, o que permitiu o início dos primeiros trabalhos sobre o uso de Logo com crianças[1]. Papert e Minsky retornam ao Brasil em julho de 1976 para ministrar seminários e participar das atividades do grupo de pesquisa sobre o uso de Logo em educação que tinha sido estabelecido. Essas experiências e estudos deram origem à dissertação de mestrado de Maria Cecília Calani (1981) e, posteriormente, esse grupo de pesquisa foi consolidado com a criação do Nied, em maio de 1983.

Em abril de 1982 teve início a administração do Prof. José Aristodemo Pinotti como reitor da Unicamp e uma das bandeiras de sua gestão foi a criação de Núcleos interdisciplinares. Foi uma estratégia para revitalizar as atividades de pesquisa que estavam, até em tão, restritas aos institutos e faculdades da Unicamp. Assim, já em 1982, foram criados alguns núcleos como NEPP – Núcleo de Estudos de Políticas Públicas, NEPO – Núcleo de Estudos de População, e NEPAM – Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais. Em 1983, o Professor Eduardo Chaves, diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP, propôs a criação de um núcleo de informática aplicada à educação, o que aconteceu por intermédio da Portaria GR 139 de 17 de maio de 1983. Assim foi criado o “Núcleo Interdisciplinar de Informática Aplicada à Educação”, vinculado à Pró-Reitoria de Desenvolvimento da Unicamp, e que foi coordenado pelo Professor Chaves de maio de 1983 a maio de 1986. Em junho de 1986 assumi a coordenadoria do Nied, tendo sido coordenador até maio de 2001.

O Nied foi institucionalizado através da Deliberação do Conselho Universitário de 27 de novembro de 1991, passando a ser gerido por um regimento aprovado pelo Conselho Universitário da Unicamp. Em 1998 passou a ser vinculado diretamente à Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa – COCEN (www.cocen.unicamp.br). A institucionalização e o vínculo com a COCEN contribuíram para a padronização das estruturas dos Núcleos e o Nied passou a ser constituído por um Conselho Consultivo, um Conselho Científico e uma Coordenadoria.



[1] Essa experiência era realizada com filhos de professores da UNICAMP e utilizava o único terminal de raio catodo ligado ao computador PDP 10 que a UNICAMP dispunha.

 

Referências

D’AMBRÓSIO, U. O Ensino de Ciências e Matemática na América Latina. Campinas: Papirus, 1984.
MORAES, M.C. Informática Educativa no Brasil: uma história vivida, algumas lições aprendidas. Revista Brasileira de Informática na Educação, nº 1, set., pp.19-44, 1997.