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DINAMIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO NA EMPRESA - DAFE COORDENADO POR: M. Cecilia C. Baranauskas FINANCIADO POR: FAPESP (FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO)

REFLEXÕES E IMPACTOS

O grupo DAFE (Dinamização da Aprendizagem e Formação na Empresa) surgiu no NIED na virada do século (ano 2000), motivado pelo interesse de pesquisadores e colaboradores interessados nas mudanças ocorrendo nas empresas em termos de novos formatos para processos de produção (ex. produção enxuta), para formas de aprender, e para a influência de novas tecnologias, especialmente a tecnologia computacional. À época existiam dois Projetos de Pesquisa em andamento, apoiados pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo): “Dinamização da Formação e da Aprendizagem nas Empresas” (FAPESP 1997-1999) e “O Uso da Internet na Formação Colaborativa e Descentralizada de Funcionários de Fábricas Enxutas” (FAPESP 2000-2002). O grupo tornou-se credenciado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, e de seus membros foram geradas várias dissertações e teses.

Os membros do Grupo DAFE, acadêmicos, pesquisadores e colaboradores do NIED, tiveram a experiência de trabalhar com empresas modernas e enxutas, sendo a Delphi Harrison Thermal Systems, em Piracicaba e em Jaguariúna, SP, a principal delas, que literalmente abriu as portas de sua fábrica (e de seus processos de produção) viabilizando a realização de projetos e pesquisas. Lá, alguns de nossos pesquisadores conduziram estudos etnográficos, realizaram o design e desenvolvimento de sistemas específicos envolvendo a aprendizagem e organização do conhecimento, e os experimentaram no contexto da empresa. Outros observaram a necessidade de novas competências e chegaram a conclusões sobre mudanças nas instituições de aprendizagem e nos processos de capacitação das próprias empresas.

Com base na experiência do grupo com a nova empresa que surgia engendrada pelas mudanças ocorrendo no início do século 21, um dos Projetos do Grupo DAFE envolveu organizar um livro. O livro, portanto, nasceu da nossa percepção de que a aprendizagem na empresa na era das novas tecnologias, da globalização e da produção enxuta, exigia novas formas de pensamento, e especialmente de aprendizagem, não só de seus próprios integrantes, mas também das pessoas envolvidas com a empresa nos níveis primários e secundários, e em geral da sociedade. Essa mudança de enfoque afetaria todos os tipos de contato e colaboração com a empresa, desde os processos internos de capacitação até os sistemas de comunicação, influenciando também nas atitudes dos pais e das famílias na maneira como tratariam a educação de seus filhos. A transformação da empresa e dos relacionamentos com ela pela comunidade abriria um leque de demandas inéditas na preparação educacional, no design e no uso de tecnologias de informação e comunicação na aprendizagem e na organização do conhecimento.
Finalmente, podemos dizer que no paradigma construcionista de aprendizagem, subjacente aos trabalhos deste grupo, teoria e prática se acoplaram, e nos possibilitaram experimentar teorias, desenvolver sistemas e práticas, com base nos cenários reais de organizações de trabalho enxutas. Mais que isso, os trabalhos deste grupo representaram, no início de um novo milênio da era cristã, uma busca da superação da visão e métodos reducionistas e analíticos de pensamento para o contexto do trabalho na empresa, em direção a uma progressiva e profunda transformação sócioorganizacional pelo conhecimento e aprendizagem.

MEMÓRIAS

No contexto da retrospectiva dos 40 anos do NIED, queremos fazer memória e agradecer a tantos colaboradores e pesquisadores que acreditaram na visão transformadora da aprendizagem na empresa, para uma sociedade mais equilibrada, uma economia mais sustentável e solidária, e uma nova consciência social que nos permitisse aprender e praticar a ajuda mútua e a cooperação. Agradecemos em particular ao Sr. Amadeu Mendes, na época gerente geral da fábrica da Delphi de Jaguariúna, que compartilhou conosco, em vários momentos, o dia-a-dia da fábrica e seus processos de produção enxuta.

As memórias do Projeto DAFE estão representadas aqui por instantâneos de telas de alguns dos sistemas desenvolvidos para aprendizado no contexto de trabalho. Tais sistemas envolveram modelagem e simulação e jogos interativos (sérios) que exploraram situações metafóricas para conceitos de sistemas de produção enxuta.
“Enxuto”1  é um ambiente de modelagem e simulação desenvolvido para o contexto de formação de funcionários do chão de fábrica em conceitos de manufatura. Utilizando os elementos básicos do sistema – estações de trabalho, operadores, técnicos, clientes, fornecedores etc. – o aprendiz constrói um modelo de planta para uma fábrica hipotética e o executa. Ao verificar os resultados obtidos o usuário pode analisar seu modelo de fábrica e produção e tomar decisões repetindo o ciclo de modelagem. Nesse processo, o usuário pode pedir ajuda ao sistema (especialista) “Jonas”, que identifica aspectos da situação modelada que poderiam ter passado despercebidos, detecta problemas em potencial e provê informação relevante ao estado da simulação. A Figura 1 ilustra telas do sistema que integra o Enxuto e o Jonas num sistema de modelagem e apoio especialista para fábricas enxutas.
Figura 1 - Telas do sistema Enxuto-Jonas de modelagem e apoio especialista na fábrica
O “Jogo do Alvo”2  oferece um contexto metafórico para aprendizado de Controle Estatístico de Processos (CEP), que é um método objetivo usado para controlar a qualidade de um processo industrial. Envolve conceitos relacionados à interpretação das cartas de controle, variações randômicas e causais nos processos de produção, estudo de tendências de um processo, estabilidade do processo, entre outros. No Jogo, o arranjo de tiros ao redor do alvo representa a distribuição de medidas de uma certa peça em produção, em relação a um valor nominal definido pela engenharia do produto, representado visualmente pelo centro do alvo. A Figura 2 ilustra telas do sistema Jogo do Avo.
O “Jogo da Fábrica Enxuta”3  é um ambiente virtual que permite que duas ou mais pessoas participem do jogo de lugares diferentes, gerenciando uma fábrica. Foi inspirado no “Jogo dos Dados”, utilizado para explorar conceitos de fluxo de manufatura, como os sistemas puxar e empurrar, controle visual de necessidades industriais, manufatura sincronizada, lead time etc. A Figura 3 apresenta a tela principal do jogo, que representa células de trabalho (estações de produção) que são ocupadas pelos participantes ou pelo sistema, em uma arquitetura síncrona via internet. Durante o jogo os participantes discutem sobre o estado da linha de produção, fazem escolhas e analisam resultados da planta com vistas ao objetivo final da linha de produção.
Figura 2 - Telas do Jogo do Alvo para controle estatístico de processos Figura 3 – o Jogo da Fábrica Enxuta
Finalmente, mais que um agradecimento a todos que participaram da caminhada do DAFE, gostaríamos de registrar aqui nossa saudade do querido amigo Juares S. Mazzone, um dos criadores do Grupo DAFE, e seu principal mentor e incentivador. Sua visão global de mundo, seu olhar crítico e seu senso de humor foram fundamentais para que pudéssemos dar novo sentido a nosso papel de educadores na sociedade. A presença dele foi fundamental para nos tirar do conforto da academia e colocar-nos no “mundo real”, estabelecendo parcerias com as empresas e vivendo a experiência de sistemas de produção enxuta.

 

Equipe:

  • José Armando Valente, NIED – Unicamp
  • Jaures S. Mazzone, NIED – Unicamp (in memorian)
  • M. Cecília C. Baranauskas, IC-NIED – Unicamp
  • Arnaldo J. de Hoyos Guevara, IME/Unicamp
  • Klaus Schlünzen Junior, FCT/Unesp
  • Marcos Augusto F. Borges, Doutorando Instituto de Computação
  • Lúcio Dutra Fernandes, Mestrando Instituto de Computação.
  • Nelson Gramacho G. Neto, Iniciação Científica IC – Unicamp
  • Rodrigo Bonacin, Doutorando Instituto de Computação
  • André Marcos Silva, Mestrando Instituto de Computação
  • Sofia Mara de Souza, Mestranda Instituto de Computação
  • Raquel Zarattini Chebabi, Mestranda Instituto de Computação
  • Edmar Lourenço Borges, Mestrando Instituto de Computação