Prefácio

É uma honra para mim poder fazer o prefácio do livro sobre os primeiros 40 anos do NIED. De fato, eu poder entrar na casa de alguém que tantas coisas boas criou para a história da educação brasileira é um privilégio e uma responsabilidade.

Pude vasculhar os retratos em cima da escrivaninha, apreciar a simbologia dos quadros dos pais e avós, com belas molduras, relembrar das tecnologias vetustas das telas verdes e das impressoras matriciais – deixadas nos quartos que eram das crianças. Vi a ampliação dos cômodos da casa. E, pelas janelas abertas, pude ver a paisagem com as árvores, frutos e flores plantadas faz mais de 40 anos! Esta foi a imagem que tenho ao ler o livro, ainda em embrião, para construir o seu prefácio.

“Em ambos vemos a preocupação com a vida humana e com a construção de uma nova dimensão para o uso das tecnologias. Tudo isso visto do ponto humanista, científico, político e social. “

Em primeiro lugar,por ver em sua origem,a presença inspiradora de dois dos maiores educadores do nosso mundo: Seymour Papert e Paulo Freire. Diálogo e consistência. Em ambos vemos a preocupação com a vida humana e com a construção de uma nova dimensão para o uso das tecnologias. Tudo isso visto do ponto humanista, científico, político e social. Difícil encontrar uma conjugação de astros tão favorável aos momentos que o país e o mundo viviam. O NIED os abraçou e foi abraçado por eles.

O livro, apresentado em blocos, segundo as fases do próprio NIED, faz-nos remeter, passo a passo, às fases vividas pela própria educação brasileira, com seus choques, esperanças, experimentos nacionais e oscilações na política e na economia. Buscava- se construir uma política de informática aplicada à educação e o NIED assumiu o desafio como uma tarefa sua. E suas contribuições estão aqui.

Tudo começa às vésperas da abertura democrática a partir dos anos 1984. Em 1982, conheci Fernando Curado, no I Encontro Nacional de Informática na Educação, promovido pela SEI (Secretaria Especial de Informática) órgão ligado ao SNI (Serviço Nacional de Informação) pelo CNPq e pelo MEC. Ele chegava de seu trabalho no MIT com Seymour Papert onde, de engenheiro, guindava-se para o interesse e estudos na educação. Contou-me, então, no tal “I Encontro”, não apenas das criações de mundos da linguagem

Logo que nascia, mas falou também de um jovem engenheiro que estava terminando seus estudos com Papert, chamado José Armando Valente. Valente vai ser importante articulador dos desafios e respostas a serem dadas pelo NIED nascente.

Maria Cecília Calani lá estava conosco no primeiro Encontro Nacional. Assim, fui compreendendo a relevância e a refinada expertise dos quadros da UNICAMP.

No segundo Encontro, em 1983, estavam também Afira Ripper, Maria Cecília Calani e Eduardo Chaves. E o grupo não parou de crescer. Eduardo foi o primeiro diretor do NIED.

Daí em diante, as competências de todos, ainda esparsas até aquele momento, se unem, se reconhecem, se percebem como força científica e da sua relevância no momento em que o Brasil, as demais instâncias da sociedade civil se encontravam. Mas, sobretudo, brotou deste grupo o poder dos estudos, das pesquisas, dos experimentos e da divulgação do pensamento que existiam na UNICAMP.

É nesse início dos anos 80 do século XX, que este grupo, ainda em formação, busca também sabiamente a articulação com pesquisadores, educadores de outras universidades e também da sociedade civil, das indústrias, de outras universidades, dos governos municipais, estaduais e federais.

“Não se pode deixar de citar os grupos e pessoas, que, em torno do projeto EDUCOM, foram a extensão das ações do NIED na política brasileira de informática e educação: apenas citarei Lea Fagundes (UFRGS), Lydnéa Gasmann (UFRJ), Antonio Luís Paixão (UFMG) e Paulo Gileno Cysneiros (UFPE).”

A lista é inesgotável e não caberia no escopo de nosso prefácio, mas não se pode deixar de citar os grupos e pessoas, que, em torno do projeto EDUCOM, foram a extensão das ações do NIED na política brasileira de informática e educação: apenas citarei Lea Fagundes (UFRGS), Lydnéa Gasmann (UFRJ), Antonio Luís Paixão (UFMG) e Paulo Gileno Cysneiros (UFPE). Eles coordenavam os grupos das universidades públicas que deram a partida aos projetos conceitualmente mais abrangentes. Eles eram referência ao pensamento que interessava às políticas públicas no setor. Cada grupo com sua pegada pedagógica e tecnológica e que, juntos, construíram muitas das diretrizes políticas que até hoje vigoram.

“Mas o NIED foi mostrando, passo a passo, com sua competência técnica e seu compromisso político que a verdadeira questão é: “O que a educação pode fazer pelas tecnologias?” No meu modo de ver a verdadeira questão.”

O NIED vai ser um catalizador de tantas competências e de tantas vontades políticas para a realização de sua missão.

O que preciso destacar aqui, dentro do tema da relevância política do NIED, é seu papel de indutor de políticas públicas. Sua função foi a de ir revertendo as questões que iniciaram o debate. Tais questões ainda pervadem hoje no cenário do senso comum e até de certo pensamento político, a meu ver equivocado conceitualmente. Entre elas a mais comum (e aparentemente inquestionável) que é a pergunta: “O que as Tecnologias da Informação e da Comunicação podem fazer pela Educação?”

Tal frase é o início de tudo – mesmo que equivocado.

Mas o NIED foi mostrando, passo a passo, com sua competência técnica e seu compromisso político que a verdadeira questão é: “O que a educação pode fazer pelas tecnologias?” No meu modo de ver a verdadeira questão.

Todo o processo desencadeado pelos nossos pais fundadores – Freire e Papert – foi nesta direção: a educação dando sentido às tecnologias. E não vice-versa.

A educação pautando os temas. A educação preenchendo bancos de dados. Não perguntando à tecnologia o que fazer mas ensinando-a a fazê-lo.

A educação fazendo estudos aprofundados ao cuidar de crianças e jovens com paralisias, dificuldades motoras, em associações para atendimento a crianças, com síndromes diversas até as questões sociais da saúde pública ou das dificuldades de aprendizagem.

As suas pesquisas nas diferentes áreas, de alguma forma, educaram as TIC. Trabalharam com os problemas da exclusão social e tecnológica indo até os processos de criatividade e engajamento em práticas sociais em prisões ou em escolas em ambiente vulneráveis.

O NIED em seus 40 anos mostrou científica e historicamente que a educação tem muito a dizer para as TIC e para todas as futuras tecnologias que forem produzidas.

Em geral as Tecnologias Digitais nascem com finalidade de gerar consumo ou controle de comportamento, mas as pesquisas e produtos de libertação humana e melhoria da justiça e coesão social, serão sempre a finalidade das produções do NIED. Marca importante da UNICAMP e por sua competência e criatividade, marca para a educação de todo o Brasil.

Obrigados a todos do NIED e parabéns por seus 40 anos de trabalho.

Desejo ao atual coordenador Prof. Julio Cesar dos Reis êxito na condução de tão relevante realização da UNICAMP e de seus trabalhadores da educação, pesquisadores, docentes e alunos.

 

Fernando José de Almeida
Prof. Titular da Faculdade de Educação da PUC-SP
Prof. do Curso de Pós-graduação em Educação: Currículo.