Logo foi desenvolvido por volta de 1968. Conta-se que a ideia surgiu durante um jantar onde estavam Seymour Papert, Wallace Feurzeig (diretor do grupo de Tecnologia Educacional da Bolt, Beranek e Newman – BBN), Cynthia Solomon (pesquisadora pertencente à BBN) e Daniel Bobrow (na época, estudante de pós-graduação do MIT). Neste animado jantar alguém propôs a criação de uma linguagem de programação que fosse bastante poderosa e capaz de substituir o BASIC. Desta ideia nasceu a linguagem Logo. Através da sua utilização e inúmeras pesquisas Seymour Papert conseguiu dar àquele Logo uma nova roupagem e uma estrutura filosófica sendo por isto considerado hoje o pai do Logo. Logo tem assim, duas raízes: uma computacional e outra filosófica.
O Logo foi implantado na Unicamp a partir da visita de Papert e Marvin Minsk, professores do Massachussetts Institute of Technology (MIT), como parte do Projeto Multinacional para a Melhoria do Ensino de Ciências e Matemática, financiado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), coordenado pelo Prof. Ubiratan D’Ambrósio, então diretor do IMECC-UNICAMP. Eles vieram ao Brasil pela primeira vez em julho de 1975 e durante essa visita de um mês realizaram diversas oficinas sobre as ideias do Logo, porém usando somente giz e quadro negro, já que não existia naquela época um programa para interpretar e executar os comandos do Logo. Um grupo de pesquisadores da Unicamp visitou o Logo Laboratory do MIT em fevereiro- março de 1976. Quando esse grupo retornou ao Brasil o Logo foi implantado no computador PDP 10, o que permitiu o início dos primeiros trabalhos sobre o uso de Logo com crianças. Essa experiência era realizada com filhos de professores da UNICAMP e utilizava o único terminal de raio catodo ligado ao computador PDP 10 que a UNICAMP dispunha.
Papert e Minsky retornam ao Brasil em julho de 1976 para ministrar seminários e participar das atividades do grupo de pesquisa sobre o uso de Logo em educação que tinha sido estabelecido. Essas experiências e estudos deram origem à dissertação de mestrado de Maria Cecília Calani e, posteriormente, esse grupo de pesquisa foi consolidado com a criação do NIED, em maio de 1983.
A tecnologia usada nas primeiras atividades do Logo com crianças, envolviam um PDP-10 (Digital Equipment Corporation), que era um computador de grande porte (mainframe), pois nessa época os computadores pessoais ainda não existiam. A versão da linguagem Logo utilizada era em inglês e a mesma que estava sendo utilizada nas pesquisas do MIT.
O Logo foi traduzido para o português, inicialmente como parte do mestrado que José A. Valente estava realizando no MIT. Esse trabalho foi realizado juntamente com Prof. Fernando Curado e publicado em 1978 (veja o artigo Translating Logo to a romance language). Esse trabalho serviu de base para o desenvolvimento da linguagem Logo em português realizada para o microcomputador I7000 da Itautec.
A versão LOGO Itautec, foi desenvolvida no período de 1984-1985 por uma equipe composta de técnicos da companhia e de professores e pesquisadores do NIED. Essa versão possui o mesmo conjunto de comandos da versão da Apple Inc., possuindo cerca de 150 palavras e símbolos no vocabulário básico. É importante notar que os comandos e mensagem de erros usavam palavras da língua portuguesa, com acentos e cedilhas, o que não acontecia com os microcomputadores Apple.
A versão da linguagem Logo ItauTec foi posteriormente usada como base para o desenvolvimento da linguagem Logo implantada nos microcomputadores MSX, Hot Logo, foi produzido e lançado no mercado em 1986 pela Sharp (Hotbit) e Gradiente (Expert) e voltado para o mercado dos videojogos. Ele tinha inúmeras facilidades de hardware que permitiam implementar animação, quatro canais para produção simultânea de som, 256 cores e usava, como monitor, uma televisão em cores. Essas facilidades permitiam o desenvolvimento de bons softwares educacionais, inúmeros jogos e uma ótima versão do Logo.
Por outro lado, o MSX não era uma máquina com a mesma flexibilidade do Apple. Não dispunha de facilidades para gravar as informações em disco (inicialmente a informação era gravada em fita cassete) ou ligar-se a impressoras ou mesmo a outros dispositivos. Além disso, o MSX não dispunha de um processador de texto ou programas de planilha e banco de dados. Ele era mais parecido com um brinquedo do que um computador. A escola que adotasse o MSX para desenvolver atividades, usando o Logo, deveria dispor de alguns computadores I 7000 ou PC para produzir textos, planilhas ou banco de dados. Era irônico que um sistema educacional com as dificuldades financeiras como o nosso, tivesse que dispor de dois tipos de computadores para dar conta das atividades desenvolvidas na escola.
Com todas as facilidades e dificuldades do MSX, ele foi adotado como o computador para a educação. Por exemplo, no caso do Hot Logo, era só ligar o MSX que a Tartaruga aparecia na tela. O professor acabava se sentido confortável e familiarizado com a informática. Não era preciso enveredar por atalhos como sistemas operacionais, diferentes hardwares e diferentes softwares, e o professor podia se concentrar mais nas questões pedagógicas do uso do computador na educação. As questões pedagógicas estavam sendo trabalhadas em um ambiente relativamente seguro e de fácil domínio.
Com o lançamento dos microcomputadores pessoais (PC) pela IBM, a versão do Logo foi também implantada para esses computadores, embora as facilidades e velocidade dos PC Pentiuns, o Logo para essas máquinas não dispõe das características que o Hot Logo do MSX dispunha, como por exemplo, animação.
Embora a produção dos computadores PC coincida com a do MSX, os PCs foram desenvolvidos para servirem à empresa e ao comércio. Essas máquinas dispunham dos caracteres da língua portuguesa, mas não dispunham de nenhuma outra característica indispensável para a educação, como cores, animação, som. Além disso, o seu preço era proibitivo para as escolas.
Assim, a calmaria da era MSX foi tumultuada pela descontinuidade da produção desses microcomputadores em 1994 e pelo aparecimento do sistema Windows para o PC. O Windows possibilitou o desenvolvimento de inúmeros programas para praticamente todas as áreas. Surgiram também outras modalidades de uso do computador na educação, como uso de multimídia, de sistemas de autorias para construção de multimídia e de redes.
A versão do Logo em português possibilitou o desenvolvimento da versão do Logo tridimensional, criado pelo pesquisador argentino, Horacio Reginni. Ele visitou o NIED em novembro de 1989 e ministrou diversas oficinas sobre o uso do Logo tridimensional. Essa versão do Logo permite a construção de figuras com uma visão de profundidade, daí o termo tridimensional, contrário das figuras do Logo tradicional que eram bidimensionais, planas.
A tradução do Logo para o português foi um trabalho importante para o NIED, pois foi desenvolvida uma linguagem de programação adotada em praticamente todos os projetos usando essa linguagem, e em todas as regiões do Brasil. Diferentemente do que aconteceu em Portugal, por exemplo, onde cada região do país desenvolveu sua versão da linguagem Logo, dificultando a comunicação e troca de informação sobre os trabalhos realizados.
Mesmo quando a linguagem Logo foi desenvolvida para outros tipos de equipamentos, como o MSX o PC, os termos foram mantidos, de acordo com a versão desenvolvida para o I700 da Itautec.
A ItauTec além de desenvolver softwares para uso comercial do microcomputador I7000 estava também interessada no desenvolvimento de software para aplicação em outras áreas, como a educação. Com isso, se interessaram em financiar o projeto sobre o desenvolvimento do Logo. Nesse sentido, ficamos agradecidos ao Superintendente da Itautec, Carlos Eduardo Corrêa da Fonseca e o gerente de Projetos Estratégicos, Contado Venturini Junior, que foram os responsáveis por esta iniciativa.
Além da tradução do Logo a ItauTec promoveu o I Simpósio Projeto Polo Informática, Tecnologia Nacional – Universidade Empresa, realizado em São Paulo em novembro de 1986. Esse evento contou com a participação de Seymour Papert. Um fato interessante ocorreu durante a apresentação de Papert. Faltou energia elétrica e o recinto ficou totalmente escuro. Porém, ele estava usando o seu laptop e pôde continuar a sua apresentação. Ele usou essa oportunidade para mostrar para o público presente, inclusive para o reitor na UNICAMP, Paulo Renato Souza, as vantagens que essa tecnologia oferecia.
A ItauTec também auxiliou a produção e a publicação do livro “Logo: Conceitos, Aplicações e Projetos, que consiste em uma série de exemplos de uso do Logo em termos de aplicações e projetos relacionados com temas curriculares, jogos e arte. São apresentadas as ideias básicas sobre cada aplicação ou projeto, como sementes, que podem ser incrementadas e complementadas para obter a solução final.
A parte do Logo gráfico foi incrementado com comandos de modo que a ser possível criar figuras com a visão de profundidade, conhecido como Logo Tridimensional. Ele foi criado por Horacio Reggini, engenheiro, escritor e docente argentino, entusiasta do Logo. Ele publicou diversos livros sobre esse tema, como Alas para la mente, LOGO (1982) e Ideas y formas, 3D-LOGO. Reggini visitou o NIED em 1988 e ministrou oficinas sobre o Logo Tridimensional.
LIVRO PUBLICADO
VALENTE, J. A.; VALENTE, A. B. Logo: conceitos, aplicações e projetos. São Paulo: McGraw Hill, 292 páginas, 1988.
DISSERTAÇÃO
CALANI, M.C. Conceitos Geométricos Através da Linguagem Logo. Orientador: Fernando Curado. 1981. 125 f. Dissertação (mestrado em Ciências da Computação) – Departamento de Ciência da Computação, IMECC, Unicamp, Campinas, 1981. https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/51921?