O objeto de criação e reflexão ao longo do Projeto e-Cidadania, e também um dos subprodutos do projeto, é a Rede Social Inclusiva Vila na Rede VnR (veja o Canal de vídeos do VnR). O Vila na Rede proporcionou aos membros da rede de participantes diretos do projeto (co-autores no processo de design) e indiretos (usuários do sistema) a oportunidade de aprender sobre as TIC, como usá-las em atividades relacionadas ao seu interesse pessoal, de entender sobre o conteúdo do que elas estavam fazendo, e de experienciar a sensação de empoderamento. Os exemplos descritos na Parte 3 do livro (capítulos 11, 12 e 13) mostram como os diferentes membros da rede estavam incorporando as TIC na sua vida, fazendo coisas que eram significativas e que faziam sentido para eles (ex. troca de produtos e informação pela rede). A sensação de empoderamento surgia quando essas pessoas percebiam serem capazes de produzir algo que era considerado impossível. Elas sentiam orgulho de seu trabalho, compartilhavam o que produziam e estavam felizes em poder interagir e trocar ideias com seus pares.
VnR é um sistema de rede social inclusiva codesigned pelas partes interessadas ao longo do projeto eCidadania. O Co-design é um processo compartilhado de design, onde o designer atua como um facilitador. Boas “ideias” podem vir de qualquer lugar ou qualquer pessoa, mas como uma ideia é traduzida e articulada estrategicamente, de forma criativa e holística, é fundamental para garantir resultados de co-criação que não sejam a junção desconexa de contribuições dos participantes. Co-design como construção conjunta é um processo ativo e receptivo; é principalmente sobre como fazer, escutando, aprendendo e comunicando tudo em um processo; co-design tem o potencial de promover mudanças uma vez que é um fazer com, não fazer para. Co-design não é uma expressão atualizada para Design Participativo, embora tenha suas bases nele. Envolve um grupo diverso de pessoas — experts, designers, usuários prospectivos, desenvolvedores, pesquisadores e outras partes interessadas (stakeholders), que vivem não necessariamente em contextos homogêneos (como o de trabalho, por exemplo), — vivendo colaborativamente uma experiência de design.
Com relação à difusão do VnR para outras pessoas, além das envolvidas desde o início no projeto na Vila União, outras vilas, de cidades diferentes, usaram o sistema mesmo durante o tempo do projeto e-Cidadania. Desde abril de 2009, o sistema foi apropriado por dois grupos que participam de atividades de inclusão digital na Vila Monte Alegre, telecentro em Pedreira (93 km da cidade de São Paulo). As atividades permitiram investigar a relação dos participantes com os recursos de mídia (texto, imagem, áudio e vídeo) disponíveis no sistema e os sinais de uma cultura mediada por TIC ao interagir por meio de rede. Diversos grupos da Vila Monte Alegre e telecentros Samuca, e outras pessoas na comunidade, tomaram conhecimento das atividades realizadas pelos participantes mediante a repercussão dos anúncios disponíveis no VnR. Em meados de julho de 2009, começou o envolvimento de profissionais da saúde, especialmente os agentes comunitários: 15 agentes e uma enfermeira juntaram-se ao projeto Re@ ge (agente virtual network), que utilizava recursos do VnR como um canal para a inclusão digital. O sistema também foi lançado para os usuários do telecentro Acessa São Paulo, em Pedreira, que, além de permitir o livre acesso às TICs, desenvolvia um projeto de inclusão social/digital com o Centro Municipal de Atenção Psicossocial.
O desafio de design que tratamos no contexto do VnR envolveu a busca de respostas para questões do tipo: Como considerar processos participativos de design que incluíssem entre as partes interessadas aqueles que podem menos — tem menos acesso à tecnologia por razões diversas — e podem ser potencialmente beneficiados por ela? Como possibilitar sua participação entre as partes interessadas nas atividades do processo de design? Como possibilitar que entendam o poder do codesign de produtos e serviços na sua vida cotidiana?
Vila na Rede, o sistema de rede social inclusiva co-desenhada pelas partes e desenvolvida no Projeto e-Cidadania representou o “objeto para pensar com”, na ciência do design que investigamos e propusemos. O sistema possibilitava que os membros da rede postassem anúncios relacionados a produtos e serviços, eventos e ideias, comentassem os anúncios uns dos outros e colaborassem nos anúncios acrescentando, por exemplo, a informação do anúncio em outras mídias. Ainda que não caiba aqui a descrição completa do sistema, seu design rationale e suas funcionalidades, vale a pena lembrar de alguns diferenciais do VnR que combinados sugerem sua essência em termos de mecanismos desenhados para facilitar a percepção, operação e inteligibilidade da informação via elementos de interação do sistema. Destacamos os conceitos de: transversalidade das mídias, incluindo acesso à informação via um apresentador virtual, possibilidades de ajustes de interface (tailoring), e aprendizado ao longo do uso via metacomunicação. A Figura mostra um instantâneo de tela do VnR.
Multimídia transversal ao sistema significa poder acessar a informação ou gerá-la a partir de mídias diferentes, integradas ao sistema. Esse conceito tem um papel importantíssimo no design do VnR uma vez que respeita a diversidade de competências de seus membros. Os usuários do sistema, no papel de consumidores, ou geradores de conteúdo, podem se comunicar via a mídia que lhes for mais confortável.A transversalidade de mídias significa também que esse uso perpassa toda inserção de conteúdo no sistema seja enviando um comentário sobre um anúncio até contatando os desenvolvedores do sistema. Manipulando conteúdo, a pessoa pode inserir fotos, vídeos, áudios e vídeos em linguagem de sinais diretamente da janela do browser. Além de comentar anúncios, VnR oferece outras funcionalidades que permitem compartilhamento de informação. A função colaborar possibilita às pessoas contribuir nos anúncios de outros, adicionando novo conteúdo multimídia (por exemplo, inserindo a tradução em Libras para o anúncio, em vídeo).
Quando o usuário cria ou edita um anúncio no VnR, o sistema automaticamente cria em vídeo uma apresentação do conteúdo por um Apresentador Virtual que fala (lê) o conteúdo do anúncio, sob demanda. Movimentos da boca do apresentador virtual sincronizados ao áudio aumentam a inteligibilidade da informação falada, na presença de ruído de fundo (“bordados fita ponto cruz e outros preço combinar”).
Usuários que não tem familiaridade com computadores usualmente têm dificuldade para manipular a barra de rolagem. Para facilitar a interação dessas pessoas, um recurso de setas navegacionais que funcionam com um clique simples foi implementado (veja um vídeo sobre a navegação no VnR). Essas mesmas setas podem incomodar o usuário já familiarizado com computadores ou esse mesmo usuário em um estágio mais avançado de envolvimento na cultura digital. Para lidar com essa diversidade de competências, VnR possui recursos de ajuste (Tailoring) para determinados elementos de interação; usuários que não precisam da seta podem retirá-las de sua área de interação.
Quando consideramos a diversidade de habilidades que usuários podem ter, sistemas de ajuda tradicionais não são suficientes. Um mecanismo de scaffolding foi implementado para permitir aos usuários “subir” em seu processo de aprendizagem do uso do sistema (via Metacomunicação). Esse mecanismo comunica sobre conceitos e funcionalidades do sistema oferecendo suporte em diferentes formatos de mídia. Para acessá-lo, usuários clicam sobre o ícone que mostra o signo internacional para informação, colocado próximo ao tópico que o usuário deseja aprender mais. Ele/ela pode escolher acessar o conteúdo via imagem, áudio, vídeo ou língua de sinais.
Estas funcionalidades do VnR não esgotam seus recursos, apenas ilustram principalmente nosso entendimento para aspectos de acesso a todos na sua maior extensão possível, sem discriminar os que podem mais ou menos, dentro do paradigma do design para todos. O Vnr é relembrado aqui também através de links para 5 vídeos que mostram um pouco da sua dinâmica de sistema inclusivo, construído pelas partes, em processo de codesign. Relembrar é reviver …
LIVRO PUBLICADO:
https://www.nied.unicamp.br/biblioteca/codesign-de-redes-digitais/
(ALGUMAS) TESES E DISSERTAÇÕES:
ALMEIDA, Leonelo Dell Anhol. Awareness do espaço de trabalho em ambientes colaborativos inclusivos na Web. Orientadora: Maria Cecilia Calani Baranauskas. 2011. 185 f. Tese (doutorado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1615324. Acesso em: 30 jan. 2023.
FORTUNA, Frederico José. Normas no desenvolvimento de ambientes Web inclusivos e flexíveis. Orientadores: Maria Cecília Calani Baranauskas, Rodrigo Bonacin. 2010. 73 f. Dissertação (mestrado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1612426. Acesso em: 30 jan. 2023.
MIRANDA, Leonardo Cunha de. Artefatos e linguagens de interação com sistemas digitais contemporâneos: os anéis interativos ajustáveis para a televisão digital interativa. Orientadora: Maria Cecília Calani Baranauskas. 2010. 224 f. Tese (doutorado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1613434. Acesso em: 30 jan. 2023. Best PhD at IC UNICAMP Award.
NERIS, Vania Paula de Almeida. Estudo e proposta de um framework para o design de interfaces de usuário ajustáveis. Orientadora: Maria Cecília Calani Baranauskas. 2010. 121 f. Tese (doutorado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas,Campinas, 2010. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1612074. Acesso em: 30 jan. 2023.
REIS, Júlio César dos. Busca informada por abordagem semiótica em redes sociais inclusivas online. Orientadores: Maria Cecília Calani Baranauskas, Rodrigo Bonacin. 2011. 116 f. Dissertação (mestrado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1615634. Acesso em: 30 jan. 2023.
RODRIGUEZ, Carla Lopes. A utilização de recursos audiovisuais em comunidades virtuais de aprendizagem: potencialidades e limites para comunicação e construção de conhecimentos em rede. Orientador: Jose Armando Valente. 2011. 257 f. Tese (doutorado) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1615928. Acesso em: 30 jan. 2023.
SANTANA, Vagner Figuêredo de. Identificação de padrões de utilização da web mediada por tecnologias assistivas. Orientadora: Maria Cecilia Calani Baranauskas. 2009. 117 f. Dissertação (mestrado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. Disponível em: https://hdl.handle. net/20.500.12733/1609502. Acesso em: 30 jan. 2023.
SANTANA, Vagner Figuêredo de. Interfaces autoajustáveis em websites: contribuições em direção ao Design para Todos = Self tailorable website interfaces: contributions towards the Design for All. Orientadora: Maria Cecilia Calani Baranauskas. 2012. 200 f. Tese (doutorado) – Instituto de Computação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1619122. Acesso em: 30 jan. 2023.
DIVULGAÇÃO DO VILANAREDE: