Ao longo dos seus 40 anos de existência, o NIED tem cumprido sua missão de construir e difundir conhecimento sobre as relações entre a educação, a sociedade e a tecnologia por meio de pesquisas e desenvolvimento de tecnologias de e metodologias de forma inclusiva e integrada às demandas da sociedade.
O papel das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no processo de construção do conhecimento não se restringe à educação regular, mas engloba a educação especial e inclusiva, a não formal, a corporativa, bem como a educação continuada em diferentes espaços socioculturais, nos quais o NIED tem procurado atuar em seus projetos, em parceria e interação com a sociedade.
Neste livro, fazemos uma retomada reflexiva dos principais projetos realizados pelo Núcleo durante seus 40 anos de trajetória, dividindo-os em quadro períodos, considerando as tecnologias existentes em cada um deles.
Os primeiros 10 anos das atividades e pesquisas do NIED (1983-1993), foram marcados pelo MSX e pelo I7000, máquinas que foram as precursoras dos computadores pessoais (PCs) e se assemelhavam mais aos antigos mainframes. O MSX era uma máquina voltada para videogames, tinha algumas vantagens em termos de animação, de recursos de som, que facilitavam para o ambiente Logo, mas com várias limitações – por exemplo, as gravações precisavam ser feitas em fita K-7, não havia gravação em disco. As primeiras atividades de informática aplicada à educação no NIED começaram com o Logo em cartuxo nas máquinas MSX. Em seguida, surgiu o I7000, computador da Itautec, com elementos que possibilitavam o processamento de texto, por intermédio de um software chamado “redator”.
Foi um período muito marcado por grandes projetos financiados pelo Ministério da Educação. No Projeto Educom, a Unicamp era uma das cinco instituições no Brasil que começaram os primeiros estudos e pesquisas, com as primeiras formações de grupos para investigar questões referentes à informática na educação. No caso da Unicamp, o grupo era responsável por investigar a metodologia Logo. Durante o Projeto Educom
aconteceu a formação dos próprios pesquisadores para as primeiras pesquisas na área, bem como o desenvolvimento de software para subsidiar resultados de pesquisa. Por exemplo, uma versão em português precisou ser desenvolvida para o Logo, o Logo tridimencional, os primeiros dispositivos que faziam a interface do Logo como o LEGO surgiram nessa época, quando o NIED começou a trabalhar com Robótica Pedagógica.
Foi um momento inicial e vibrante, que demandava muito trabalho para expansão dessa área que estava se iniciando no Brasil – a Informática Aplicada à Educação.
Outro importante projeto financiado pelo MEC foi o Projeto Formar, que trabalhou a formação de professores para lidar com o Logo e com essa nova área que surgia no Brasil. A segunda fase desse período (1993-2000) foi marcada pela disseminação dos Computadores Pessoais (PC), o que alavancou a inserção dos computadores nas escolas. Foram vários cursos de formação docente ministrados no país, decisivos para a criação de centros de informática aplicada à educação no Brasil inteiro. Eram centros regionais, ligados a escolas municipais ou escolas técnicas, de nível superior e de educação especial.
Nessa época, aconteceram também alguns projetos de Educação Especial que, além de formar profissionais dessa área, tiveram como objetivo entender como o computador poderia ser usado por pessoas com deficiências de diversos tipos. Um trabalho importante foi realizado com a AACD em São Paulo, com a implantação da informática nas salas de aula do setor escolar. Essa instituição tornou-se referência nacional em educação especial, realizando cursos de formação para profissionais de diferentes regiões do Brasil.
No início do segundo período, já existiam os computadores pessoais e as primeiras aplicações com Internet estavam começando a acontecer no Brasil. Isso revolucionou a história da formação, por exemplo. Ao pensar a Internet como meio para comunicação e para pensar junto virtualmente, a formação precisou ser reconstruída. O uso da Internet trouxe a questão da formação a distância. A cada nova tecnologia, novos desafios surgem e houve nessa época um grande movimento na direção do e-learning, uso de multimídia e hipertexto; movimento que, no NIED, foi fomentado pelo projeto OEA (Organização dos Estados Americanos).
Era preciso ter uma plataforma web para possibilitar a formação à distância. Foi nessa época que surgiu o TelEduc, uma importante contribuição do NIED – ao mesmo tempo que deu suporte ao projeto OEA, o TelEduc se serviu do OEA para o desenvolvimento da plataforma de Ensino a Distância. Uma plataforma que dentro da Unicamp também foi incorporada, por intermédio do Ensino Aberto. O projeto TIDIA-Ae veio a acontecer depois do TelEduc, também na linha do desenvolvimento de uma plataforma para educação a distância.
Projeto TIME é sobre o uso de multimídias na escola, onde se percebe um outro nível de recursos sendo explorados na escola.
Proinesp é um projeto de formação de profissionais ligados à Educação Especial. Não podemos nos esquecer que não é apenas a educação regular, a educação especial também está no nosso cenário. Nessa época, o Logo deixou de ser primeiro plano a passa-se a pensar nos ambientes construcionistas, que são ambientes pensados na ideia e na filosofia do Logo.
O Grupo DAFE explora essa questão, da formação agora não na escola, mas da formação no ambiente da indústria. Dois projetos Fapesp daquela época começaram essa investigação sobre a criação e o design de ambientes baseados nas ideias construcionistas para o contexto da fábrica. Jogos e simulações foram projetados para permitir que operários construíssem conhecimento sobre conceitos que eram parte do dia-a-dia das atividades na fábrica. As fábricas Enxuta e Delphi Thermal Systems de Piracicaba foram parceiras nessa época e vários sistemas foram construídos usando as ideias construcionistas para explorar tarefas e conceitos das fábricas. Tudo era distribuído pela Internet. O jogo da fábrica, por exemplo, possibilitou que os funcionários assumirem postos nas células de produção, mesmo que a distância, e assim pudessem simular processo de produção e aprender sobre o material de trabalho deles. É importante destacar esse tipo de projeto para mostrar que o público- alvo não é apenas o professor e os alunos da escola regular, mas também passa pela questão do aprendizado do indivíduo para a vida.
Esse período também foi marcado pelas tecnologias da web 2.0 e as redes sociais, quando muito mais ferramentas de comunicação estavam disponíveis. Esse momento possibilitou uma maior aproximação com a sociedade. Por exemplo, o projeto E-cidadania trabalhou o codesign de uma rede social inclusiva chamada Vila na Rede, com pessoas da comunidade Vila União, em uma periferia de Campinas. Com isso, pessoas que usualmente não têm contato com a universidade foram trazidas para o processo de design, não apenas para uso das tecnologias, mas também na co-criação do sistema que seria utilizado por elas.
Outro projeto marcante nesse período foi o Warau, que contribuiu para apoiar a construção de sistemas web acessíveis, que garantam algum nível de usabilidade para pessoas com deficiência.
O terceiro período parte da ideia de mobilidade. A máquina agora não precisa estar no laboratório de informática, ela pode estar no pátio da escola, por exemplo. Junto com dispositivos móveis como laptops e tablets surgia o m-learning (mobile learning), que não dependia necessariamente de cabos e da Internet para acontecer. Tecnologias como as redes sem fio (wi-fi) e as redes 3G começaram a fazer parte do cotidiano das pessoas e deixaram suas marcas na educação, que passou a contar com tecnologia móvel para transcender os espaços da sala de aula.
Foram desenvolvidos vários projetos em torno na questão da mobilidade – Um Computador por Aluno (UCA), ABInv, XO são alguns exemplos. O Projeto UCA Unicamp fez parte do Programa UCA ou ProUCA, um programa do governo.
No ProUCA, a Unicamp ficou responsável por dois papéis – como instituição de ensino superior em nível global, ela era responsável pela formação de grupos de pesquisa nas universidades de três estados da região Norte do país, que por sua vez atuaram em municípios e escolas de suas regiões – Acre, Pará e Rondônia. E como unidade de ensino superior no contexto local a Unicamp trabalhou diretamente com quatro escolas municipais do estado de São Paulo, também lidando com a questão da mobilidade. A Unicamp, por intermédio do NIED, e mais sete outras instituições de ensino superior englobaram todos os estados da federação nesse amplo programa do governo que buscou levar a mobilidade da tecnologia para as escolas de todas as regiões do país.
O ABInv é um subprojeto do UCA que trabalha a pesquisa investigativa, aprendizagem baseada na investigação e como isso acontece no momento da mobilidade com os laptops educacionais nas escolas.
O XO é um projeto financiado pelo CNPq, com parceria da Secretaria Municipal de Educação de Campinas (SEDUC), que aconteceu a partir da doação de 500 laptops do tipo XO para pesquisa. O Projeto XO aconteceu na escola Emílio Miotti em Campinas. Diferente do UCA, onde existiam os mentores do projeto, o XO era executado na escola, onde foi construída uma metodologia participativa com as próprias partes interessadas e que pudesse levar o XO para as práticas do professor.
No primeiro período tínhamos laboratórios como os MSX nas escolas envolvidas em pesquisas. Com a mobilidade, não precisamos mais de laboratórios, temos o computador em qualquer lugar. A configuração de sala de aula também muda. Não é mais necessário ter as carteiras enfileiradas e toda a organização espacial tradicional. A relação entre os alunos também muda nesse novo cenário.
O quarto e atual momento é um período no qual vivenciamos colaboração, mobilidade e grande volume de dados, marcado por um mundo cada vez mais conectado. O que encontramos é uma maior diversidade de conteúdos e de contribuições mediados por variados dispositivos. Percebemos o desaparecimento do computador como ele era conhecido nos primórdios – com vídeo, com teclado, com mouse. O computador passa a ser cada vez mais imperceptível, mais ubíquo, porém se fazendo notar nos processos de interação com as tecnologias.